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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Attachment parenting ou "criação com apego". denominação nova p/ o retorno a criação mais presencial-os bens emocionais.

As mulheres elegeram suas prioridades. Primeiro, estudos, realização profissional e estabilidade financeira. Depois, formação da família e criação dos filhos. A gravidez planejada é festejada e curtida. Seis meses após o nascimento do bebê, quando acaba a licença-maternidade, entretanto, a mãe deve voltar ao trabalho.
Já bem antes disso, ela começa a oferecer outros alimentos à criança, que precisa se acostumar a ficar longe do peito. Sem outra opção, ela escolhe uma creche para deixar o filho, ou delega os cuidados para uma babá ou parente. Não sem alguma dose de culpa e frustração, passa os dias tentando equilibrar os papéis que a vida lhe impõe.
Na contramão desse cenário, surgiu nos Estados Unidos, há mais de duas décadas, um movimento que defende outro modelo de criação dos filhos, especialmente enquanto são pequenos: attachment parenting, ou "criação com apego", em tradução livre. Ganhou nome e força com o pediatra americano William Sears, autor do livro The Baby Book (inédito no Brasil), que traz os sete princípios que devem ser seguidos para a "criação de filhos felizes, saudáveis e de bom caráter", segundo a publicação. Entre eles, amamentar sempre que o bebê pedir e sem idade limite para o desmame, e levá-lo para dormir na cama dos pais. São os dois pontos mais polêmicos, que geram discussões sobre a melhor maneira de se criar e educar as crianças.
— Existem múltiplas formas de se criar filhos. Cada família deve escolher a que for mais próxima de seus valores, crenças e particularidades — opina a neurocientista Ligia Sena, doutora em Neurofarmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Ela é uma das precursoras da "criação com apego" em Santa Catarina. Conta que, quando engravidou de Clara, escolheu intuitivamente essa forma de cuidados. E só depois passou a estudar o assunto.
— Eu nem sabia da "criação com apego" quando senti a força da conexão, do amor e da vontade de cuidar da minha filha de uma forma mais presente — explica.
Ela defende que crianças criadas dessa maneira tendem a ser mais seguras, justamente por se sentirem sempre amparadas e por saberem que suas necessidades são prontamente atendidas. Mas a opinião não é unânime.
Crítica
A psiquiatra Maria Elisabeth do Valle, especialista em terapia de família, considera a "criação com apego" totalmente inadequada.
— Penso que o desenvolvimento da criança deve ser uma preparação para a vida, para enfrentar as perdas necessárias que acontecem no dia a dia. Este cuidado mais intenso deve ocorrer no primeiro mês de vida da criança, por ser um momento de conhecimento e reconhecimento mútuo da dupla mãe-bebê. Aos poucos, com a importante ajuda dos pais, esta dupla precisa iniciar o processo de individualização e separação para que se torne, no futuro, um indivíduo seguro e capaz.
A neurocientista Ligia Sena ressalta que a expressão criação com apego é apenas uma denominação nova para algo que é antigo, e que sempre esteve presente em muitas culturas sem que houvesse necessidade de nomear. Na opinião da pesquisadora, as pessoas estão cada vez mais envolvidas com suas necessidades individuais e com o acúmulo de bens materiais que lhe dão a (falsa) sensação de segurança.
— Saímos de casa cada vez mais cedo, voltamos cada vez mais tarde e não raro precisamos trabalhar também às noites e aos finais de semana. Nesse contexto, não sobra muito tempo para o cuidado ativo com as crianças, que logo precisam aprender a lidar sozinhas com seus anseios — explica.
A "criação com apego", afirma Ligia Sena, é o retorno a uma criação mais presencial, ativa, conectada, como era mais fácil de ser observada antes da frenética busca pela acumulação de bens materiais, enquanto os bens emocionais foram sendo deixados de lado. A psiquiatra Maria Elisabeth do Valle acredita que a "criação com apego" gera uma superproteção do filho, o que seria muito perigoso.
— A superproteção é tão ou mais danosa que o abandono, e provavelmente esta criança, se não tiver ego suficiente para colocar uma barreira, será extremamente insegura e incapaz de lidar com as adversidades da vida — ressalta.
Outro ponto criticado pela especialista em terapia de família, é o fato de a criança dormir rotineiramente na cama dos pais.
— O casal precisa ter sua intimidade preservada — afirma.
Fonte: Diário Catarinense

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